terça-feira, 22 de setembro de 2009

Esopo


Um lobo vestiu a pele de um cordeiro. Contudo, não deixava de ser um simples lobo vestido com uma pele de cordeiro. O lobo vestiu então uma segunda pele de cordeiro. Mesmo assim não passava de um lobo vestido com duas peles de cordeiro. O lobo decidiu vestir uma terceira pele de cordeiro. Um observador atento percebia que era um lobo enrolado em três peles de cordeiro. O lobo vestiu uma quarta pele de cordeiro. Agora, sim, estava irreconhecível. Era um cordeiro enorme, redondo, farfalhudo. Os outros lobos nunca tinham visto um cordeiro tão grande e tão bem nutrido. Levaram uma noite inteira para o devorar.
Rui Manoel Amaral

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Vanguarda no Pelô

CILELIJ


Entre os dias 24 e 28 de fevereiro de 2010, a literatura infantil e juvenil ganhará um novo impulso, com 1º Congresso Ibero-Americano de Língua e Literatura Infantil e Juvenil, a ser realizado na na cidade de Santiago, no Chile. Organizado pela Fundação SM e pela Direção de Bibliotecas, Arquivos e Museus do governo chileno, o evento pretende contribuir para a construção de um amplo e generoso painel a respeito da literatura infantil e juvenil ibero-americana, tanto do ponto de vista geográfico como histórico, discutindo passado, presente e perspectivas futuras de sua produção.
Os participantes do CILELIJ 2010 contarão com os módulos Acadêmico, que envolve conferências, mesas-redondas, comunicações e debates, no período diurno e é reservado aos participantes inscritos; e o Cultural, à noite, com exposições, espetáculos teatrais e lançamentos de livros, abertos ao grande público. O programa completo e os procedimentos para inscrição estão acessíveis no site
www.cilelij.com.
Fonte: www.dobrasdaleitura .com

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

um lugar que já foi meu



Essa saudade da Lapa, que ando sentindo, na verdade é saudade de um tempo! Dia desses, num desses passeios que dou pelo universo bloguiano, li essa frase da Alexandra Monteiro: “Nenhuma cidade é nossa com facilidade: a pertença chega com o mesmo vagar dos musgos”. Curioso... Pensar no tempo “vendo-o” de longe, não percebemos esse vagar, mas concordo que seja assim! É como se ele (o tempo) tivesse corrido, isso sim, feito trem-bala, e a estação é o hoje (é aqui que encontro os musgos). E nesse congestionamento das memórias, me pego a freqüentar de novo aquelas ruas, as ruas em que passaram os meus avós, os meus pais, irmãos, tios e primos, amigos...
A cidade é um acúmulo de imagens sobrepostas: o velho no novo e o novo no velho! E a gente existe na composição dessas imagens, paisagens. E assim se vai tecendo a história dela, da cidade, que é um conjunto das histórias das pessoas e do que elas fazem, experimentam, produzem, vivem. O lugar.
Estive lá apenas por um dia, depois de três anos! Tão injusto dar tão pouco tempo pra memória! Uma crueldade... Logo ao chegar, o morro, de longe, me recebe, como se dando as boas-vindas. Percorro o mesmo trajeto da escola pra casa. Agora parece tão mais perto! Na boca o sabor do geladinho de manga, que só quem provou é que sabe. Viro a esquina e vejo o clube - os primeiros carnavais – fantasias, máscaras, blocos, bandas e marchinhas, que nem ouvimos mais.

Ainda não tinha percorrido nem um terço das paredes da memória, que parecia que se movimentava como em turbilhão, suspeitando, já, que teria poucas horas pra vivenciar de perto as lembranças, trabalhando no embaraço de tanta imagem que ia surgindo, fazendo bagunça na cabeça!
E assim foi essa ida, rápida como os raios que eu via por lá, quando era criança ainda, e minha vó alertava: “Toma cuidado, menina! Fica atenta ao trovão! Depois dele sempre relampeja, e relâmpago é perigoso!”. Mas eu não tinha medo, não! Gostava mesmo era de tomar banho de chuva no quintal! Mas no dia que um raio derrubou o pé-de-limão, aí sim, senti um medinho só!
As visitas habituais seriam certas, como foram. Ir à gruta do Bom Jesus da Lapa. As cenas, quase que pitorescas, dos romeiros, envolvidos com suas orações, promessas e pagamento delas.
Como o clima ainda é de romaria por lá, a cidade não se desfez desse cenário. Na porta da gruta, muitas barracas dos ambulantes. A memória viaja de novo, lembrando da infância, quando conheci as primeiras literaturas de cordel. Ficava encantada com aqueles homens enfeitados com acessórios de couro, chapéu, gibão e viola na mão, desenrolando com tranqüilidade versos engraçados, cheios de rima, com um forte conteúdo sertanejo nas histórias, no sotaque...
Ir à casa onde moraram os avós... Ali, até cheiro eu senti, do “malassado” que minha avó preparava, delicioso! Ah, lembranças boas! Quando criança, a casa me era enorme! Agora, como parece pequena... E o vazio dela (lá já não mora mais ninguém) ressaltou a completude que foi ter tido os avós que tive, que embora não estivessem ali, agora, a memória tratou logo de povoar toda a ausência! Fechei os olhos e esbarrei comigo, pequena, correndo ao redor da casa. Tropeçei em mim e voltei.
Ficaria aqui, contaria tantas outras histórias... Sobre um tecido de retalhos, cosido com a linha do tempo!
Por hora, tomo um café e penso: num tempo, aquele foi o meu lugar!

(...)
"Por isso gosto tanto de me contar
Por isso me dispo
Por isso me grito...”
Drummond