quinta-feira, 30 de julho de 2009

a maior flor do mundo

Quando a Nath tinha sete aninhos, li pra ela "A maior flor do mundo", do Saramago.
"Também queria uma flor grande dessa! Mas ia molhar com meu regador que minha vó me deu!", disse ela quando terminei a história.

História de uma flor
By José Saramago

Aí pelos começos dos anos 70, quando eu ainda não passava de um escritor principiante, um editor de Lisboa teve a insólita ideia de me pedir que escrevesse um conto para crianças. Não estava eu nada certo de poder desobrigar-me dignamente da encomenda, por isso, além da história de uma flor que estava a morrer à míngua de uma gota de água, fui-me curando em saúde pondo o narrador a desculpar-se por não saber escrever histórias para a gente miúda, a quem, por outro lado, diplomaticamente, convidava a reescrever com as suas próprias palavras a história que eu lhes contava. O filho pequeno de uma amiga minha, a quem tive o desplante de oferecer o livrinho, confirmou sem piedade a minha suspeita: “Realmente”, disse à mãe, “ele não sabe escrever histórias para crianças”. Aguentei o golpe e tentei não pensar mais naquela frustrada tentativa de vir a reunir-me com os irmãos Grimm no paraíso dos contos infantis. Passou o tempo, escrevi outros livros que tiveram melhor sorte, e um dia recebo uma chamada telefónica do meu editor Zeferino Coelho a comunicar-me que estava a pensar em reeditar o meu conto para crianças. Disse-lhe que devia haver um engano, porque eu nunca tinha escrito nada para crianças. Quer dizer, havia esquecido totalmente o infausto acontecimento. Mas, há que dizê-lo, foi assim que começou a segunda vida de “A maior flor do mundo”, agora com a bênção das extraordinárias colagens que João Caetano fez para a nova edição e que contribuíram de maneira definitiva para o seu êxito. Milhares de novas histórias (milhares, sim, não exagero) foram escritas nas escolas primárias de Portugal, Espanha e meio mundo, milhares de versões em que milhares de crianças demonstraram a sua capacidade criadora, não só como pequenos narradores, também como incipientes ilustradores. Afinal, o filho da minha amiga não tivera razão, o conto, de transparente simplicidade, havia encontrado os seus leitores. Mas as coisas não ficaram por aqui. Há alguns anos, Juan Pablo Etcheverry e Chelo Loureiro, que vivem na Galiza e trabalham em cinema, procuraram-me com o objectivo de fazer da “Flor” uma animação em plasticina, para a qual Emilio Aragón já tinha composto uma bela música. Pareceu-me interessante a ideia, dei-lhes a autorização que pediam e, passado o tempo necessário, inútil dizer que depois de muitos sacrifícios e dificuldades, o filme foi estreado. Eu próprio apareço nele, de chapéu e bastante favorecido na idade. São quinze minutos da melhor animação, que o público tem aplaudido em salas e festivais de cinema, como foram, no passado recente, os casos de Japão e Alasca. Como foi igualmente o prémio que acaba de lhe ser atribuído no Festival de Cinema Ecológico de Tenerife, felizmente ressurgido de uma paragem forçada de alguns anos. Chelo veio a nossa casa, trouxe-nos o prémio, uma escultura representando uma planta que parece querer ascender até ao sol e que, muito provavelmente, irá continuar a sua existência na Casa dos Bicos, em Lisboa, para mostrar como neste mundo tudo está ligado a tudo, sonho, criação, obra. É o que nos vale, o trabalho.

Publicado em O Caderno de Saramago

terça-feira, 28 de julho de 2009

e por falar em cinema

pois é, acabei me esquecendo de postar aqui, pros visitantes e fantasmas interessados:

Acontece essa semana, entre os dias 27 de julho a 01 de agosto, o V Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual (SEMCINE). Como nos anos anteriores, o V SEMCINE exibirá filmes inéditos na Bahia e no Brasil, e promoverá discussões e reflexões sobre a criação, produção, circulação e o consumo do audiovisual. A mostra de longas metragem contará com películas inéditas dentre as quais: “Karamazov” filme Tcheco do diretor Petr Zelenka, premiado no Karlovy Vary Internacional Filme Festival; “La Buena Vida”, filme vencedor do prêmio Goya de melhor filme hispano-americano 2009, do chileno Andres Wood; “Intimidades de Shakespeare e Victor Hugo”, filme mexicano de Yulene Olaizola e “Pau Brasil”, de Fernando Belens, em pré estréia nacional e internacional.

Fonte:http://www.seminariodecinema.com.br/

fotografias que o cinema me deu

Asas do Desejo - Wim Wenders


Jules et Jim - Truffaut

Les amants du Pont-Neuf - Leos Carax



Delicatessen - Jean-Pierre Jeunet



O último tango em Paris - Bernardo Bertolucci


O balão vermelho - Albert Lamorisse






segunda-feira, 27 de julho de 2009

NAUFRÁGIO NA SALA CECÍLIA MEIRELES


.... mar com corpo, sala com mar, som

com sala, corpo com som. Sal, Sal,

e Sal. Boca de coral vermelho

numa língua de escamas cromáticas,

escalas de sargaço, notas desbotadas.

Naufrágio de cadeiras no resto

de ferros afundados. Ondas me arrastam

desta sala. Das correntezas do som,

a respiração deriva para a amplidão.

A dentada do pâncreas no rosto

de um tubarão. Onde as bocas

com a água dos corpos soletrada? Onde

as que querem com a náufraga se unir?

Nada escuto, neste mar agora amplo,

senão as ondas. Nas ondas do som, o silêncio de ondas. Só onde soa o silêncio de ondas anda o som, o som do silêncio. Entre silêncio e som, entre som e silêncio, a onda. Entre o sol do silêncio e o som do sol, entre o sono sonegado pelo sino do som, acorda o silêncio do sino solerte do sol. O solêncio. O sinêncio. (Jamais escutamos o silêncio sem o dizer. Jamais escutamos o silêncio sem o dizer).

António Cícero

dos desejos

Praia de Baía Formosa-RN

será que se eu disser mar
mar
mar
mar
mar
mar
ele vem ter comigo?

quinta-feira, 23 de julho de 2009

conceitos que voam

Certa vez li e fiquei a pensar:

“(...) e o céu, é um conceito que voa?”

ave
balão
avião
foguete
pensamento
borboleta
olhar
vento...

terça-feira, 21 de julho de 2009

linha da dança

Dançarina da Cia Trama-foto de Guilherme Cunha


De qualquer modo dança.
De qualquer modo sente.
De qualquer modo o corpo contém o dia.
De qualquer modo as cores e o Músculo.
De qualquer modo o coração.
De qualquer modo sempre no Fundo a Memória.
Mas de qualquer modo sem TEORIAS.
De qualquer modo com a teoria da poética que é não existir teoria e só existir poética.
De qualquer modo a ciência atrapalha um pouco, mas não totalmente.
De qualquer modo curiosidade.
De qualquer modo colecionar montanhas.
De qualquer modo acabar quando o ritmo exige que se continue
o ritmo exige coisas que não devemos aceitar obedecer ser escravos.

Gonçalo Tavares

domingo, 19 de julho de 2009

invenções


Você inventa grite
Eu invento ai!
Você inventa chore
Eu invento ui!
Você inventa o luxo
Eu invento o lixo
Você inventa o amor
Eu invento a solidão
Você inventa a lei
E eu invento a obediência
Você inventa Deus
E eu invento a fé
Você inventa o trabalho
E eu invento as mãos
Você inventa o peso
E eu invento as costas
Você inventa a outra vida
Eu invento a resignação
Você inventa o pecado
Eu fico aqui no inferno
Meu Deus, no inferno
Valha-me Deus, no inferno.

Ui! (Você inventa), de Tom Zé e Odair Cabeça de Poeta

sábado, 18 de julho de 2009

na letra "a" eu gosto de

andar, adormecer, amanhecer, anoitecer, avesso, asas, azul, ar, árvore, afeto, alguém

arco-íris da janela



tem dia que acho tudo desbotado...
é quando quero fugir do mundo e ficar mais perto do céu!

quinta-feira, 16 de julho de 2009

esse corpo de água e outros elementos

Saul Steinberg, Girl in Bathtub, 1949.
"É que se analisarmos o nosso corpo só encontramos água e uma dezena de matérias que nela flutuam. A água sobe em nós exactamente como nas árvores. As criaturas animais, tal como as nuvens, são formadas de água. Acho isto um encanto. Portanto não sabemos muito bem o que havemos de pensar de nós próprios. Nem aquilo que devemos fazer. (...) Ele afirma que desde então as coisas se têm complicado bastante. Assim como flutuamos na água, flutuamos também num oceano de fogo, numa tempestade de electricidade, num céu de magnetismo, num charco de calor e assim por diante. Mas isso não sentimos nós. Numa palavra, só restam fórmulas."

Robert Musil, O homem sem qualidades

domingo, 12 de julho de 2009

blue hihway




embora o nosso inverno sofra uma crise de identidade freqüente (pensa que é verão), nesse tempo fico mais caseira, e nada melhor que um blues, pra combinar com a atmosfera, que também é pura cena, já que não tem frio, nem melancolia... chove em algum lugar, mas eu estou noutro lugar, que não aquele que chove! e tenho discos de blues! que alívio! só não tenho um inverno...

quinta-feira, 9 de julho de 2009

paixão pelos livros II


corot


von gogh


renoir


fragonard

paixão pelos livros



Para gostar de ler

José Mindlin, 94, é formado em direito pela USP, já foi empresário, advogado, repórter e secretário estadual de cultura em São Paulo. No entanto, o que o tornou conhecido não foi o exercício de nenhuma dessas atividades, mas seu vício por livros, ao qual ele se refere como uma "loucura mansa". Em sua nova obra, "No Mundo dos Livros" (ed. Agir, 104 págs., R$ 30), Mindlin fala de seus autores favoritos, da revolução causada pelo surgimento da imprensa e do consequente aumento do acesso à leitura no século 15. Também explica como começou a formar sua biblioteca pessoal, aos 13 anos. Hoje, ela tem aproximadamente 38 mil volumes. Imortal (como são conhecidos os membros da Academia Brasileira de Letras), o bibliófilo diz que seu objetivo com o novo livro é "infectar as pessoas com o vírus da bibliofilia" . Ele não acredita que existam pessoas que não gostem de ler: "Certamente não foram devidamente estimuladas".

fonte: http://www1. folha.uol. com.br/fsp

terça-feira, 7 de julho de 2009

Açúcar e Arte

foto: ©Marcio Fagundes
Saccharum Ba


O Museu de Arte Moderna da Bahia recebe a exposição Saccharum BA, que aborda, por meio de diversas linguagens da arte, o tema do açúcar em suas múltiplas facetas. A cana-de-açúcar e a economia mundial, da época colonial ao bioálcool, alimento, mercadoria, combustível perpassam as propostas artísticas da exposição, que marca o encerramento do projeto multidisciplinar "A Rapadura e o Fusca: Cana, Cultura e Sociedade", do Goethe-Institut. A mostra reúne obras de artistas nacionais e estrangeiros, como Jonathan Meese, Simone Nieweg, Jürgen Stollhans e Janaína Tschäpe da Alemanha; José Rufino, Vauluizo Bezerra, Ieda Oliveira, Gaio Matos, Ayrson Heráclito, Maxim Malhado, Herbert Rolim, Márcio Fagundes, Caetano Dias e Baldomiro Costa do Brasil; Shelley Miller do Canadá, e Meschac Gaba do Benin, entre outros, além de peças dos acervos locais que têm relação com o tema. O circuito da mostra inclui três núcleos diferentes:
1) no MAM são apresentados trabalhos produzidos especificamente para a mostra, que dialogam com obras do acervo da Galeria Paulo Darzé e de arte moderna do próprio MAM;
2) na Galeria do ICBA, é apresentado um recorte sobre as cachaças baianas dirigida ao aspectos do design dos rótulos e da produção da bebida no interior da Bahia, com fotografias de Flavio Soledade;
3) no Museu Carlos Costa Pinto são focalizados alguns dos legados do engenho, acrescentando ao acervo próprio do local peças do Museu Wanderley Pinho.
A visitação estará aberta ao público até 30 de julho, com entrada gratuita.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

psicodelia




Não deixo de me surpreender com a Bjork! Seus videoclipes são verdadeiras viagens, alucinantes!

sexta-feira, 3 de julho de 2009

cinema e café

vista do Solar do Unhão

tarde de um dia de férias. fui ver Palavra (En)cantada. belo documentário! a música como ponte para a poesia e a literatura. conversas com diversos artistas da nossa cultura: Arnaldo, Betânia, Chico, Adriana Calcanhoto, Lirinha, B-Negão, Tom Zé, Lenine... imagens raras! um deleite só!
depois aquela parada no Café do MAM, pro pôr-do-sol de cada dia. gente que vai chegando. um grupo, dois grupos, três grupos... falam e falam, blá, blá, olá, como vai? tudo bem? sorrisos, olhares, paqueras, conversa fiada e tambem pra boi dormir. mais tarde um som que vem das pickups de um Dj. grave, agudo, médio, alto baixo. silêncio é o que não há! aumenta a agitação. gestos articulam-se em meio às conversas. movimento dos corpos, respondendo à sedução da música. ali fico algum tempo! até que chega a hora de ir. nos vemos outro dia! vamos combinar algo pra depois... o ócio de um dia de férias!
segredo


A poesia é incomunicável.
Fique torto no seu canto.
Não ame.

Ouço dizer que há tiroteio
ao alcance do nosso corpo.
É a revolução? o amor?
Não diga nada.

Tudo é possível, só eu impossível.
O mar transborda de peixes.
Há homens que andam no mar
como se andassem na rua.
Não conte.

Suponha que um anjo de fogo
varresse a face da terra
e os homens sacrificados
pedissem perdão.
Não peça.

Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Museu da Língua Portuguesa - SP

Foto de exposição do Museu da Língua Portuguesa-SP



curioso como não ficamos satisfeitos em apenas contemplar a leitura... desejamos a poesia como um souvenir. nada que uma câmera não resolva!