NAUFRÁGIO NA SALA CECÍLIA MEIRELES
.... mar com corpo, sala com mar, som
com sala, corpo com som. Sal, Sal,
e Sal. Boca de coral vermelho
numa língua de escamas cromáticas,
escalas de sargaço, notas desbotadas.
Naufrágio de cadeiras no resto
de ferros afundados. Ondas me arrastam
desta sala. Das correntezas do som,
a respiração deriva para a amplidão.
A dentada do pâncreas no rosto
de um tubarão. Onde as bocas
com a água dos corpos soletrada? Onde
as que querem com a náufraga se unir?
Nada escuto, neste mar agora amplo,
senão as ondas. Nas ondas do som, o silêncio de ondas. Só onde soa o silêncio de ondas anda o som, o som do silêncio. Entre silêncio e som, entre som e silêncio, a onda. Entre o sol do silêncio e o som do sol, entre o sono sonegado pelo sino do som, acorda o silêncio do sino solerte do sol. O solêncio. O sinêncio. (Jamais escutamos o silêncio sem o dizer. Jamais escutamos o silêncio sem o dizer).
António Cícero
segunda-feira, 27 de julho de 2009
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