segunda-feira, 27 de julho de 2009

NAUFRÁGIO NA SALA CECÍLIA MEIRELES


.... mar com corpo, sala com mar, som

com sala, corpo com som. Sal, Sal,

e Sal. Boca de coral vermelho

numa língua de escamas cromáticas,

escalas de sargaço, notas desbotadas.

Naufrágio de cadeiras no resto

de ferros afundados. Ondas me arrastam

desta sala. Das correntezas do som,

a respiração deriva para a amplidão.

A dentada do pâncreas no rosto

de um tubarão. Onde as bocas

com a água dos corpos soletrada? Onde

as que querem com a náufraga se unir?

Nada escuto, neste mar agora amplo,

senão as ondas. Nas ondas do som, o silêncio de ondas. Só onde soa o silêncio de ondas anda o som, o som do silêncio. Entre silêncio e som, entre som e silêncio, a onda. Entre o sol do silêncio e o som do sol, entre o sono sonegado pelo sino do som, acorda o silêncio do sino solerte do sol. O solêncio. O sinêncio. (Jamais escutamos o silêncio sem o dizer. Jamais escutamos o silêncio sem o dizer).

António Cícero

Nenhum comentário: